terça-feira, 24 de julho de 2012

O Prazer e a Dor

Prazer e dor. Polos opostos cujas gradações populam não apenas a experiência humana, mas também a experiência da vida em si, de todo tipo de vida. A dor nos leva a repelir algo, nos mostrando o que é dissonante de nós, e o prazer nos impulsiona para que nos aproximemos de alguma coisa, revelando o que nos é ressonante.

E, talvez estranhamente, estas sensações não acontecem necessariamente porque algo realmente nos cause prazer ou dor. Na verdade a consciência destes estados não se sente somente com um estímulo imediato, e sim, muitas vezes, como a memória de algo que se sentiu, a lembrança de uma experiência, gerando a expectativa de ter novo prazer, ou de sofrer dor, tal como diz aquele ditado popular: “Gato escaldado tem medo de água fria”. Assim estas sensações não são apenas reações momentâneas, e sim algo que passa a fazer parte de cada um, constituindo a base do nosso aprendizado e dando forma a quem nós somos. Pode-se dizer que as ressonâncias (o prazer) representam respostas que nos completam, expandindo nossa expressão para o exterior, e que as dissonâncias (dor) mostram nossos limites, os quais não nos permitem passar adiante, o ponto a partir do qual cessa o “eu” e começa algo diferente do “eu”.

A princípio, o prazer e a dor parecem opostos, contraditórios em suas naturezas porém, em uma análise mais profunda, percebe-se que estão interligados, sendo complementares entre si. O prazer (que aponta para a expressão de quem somos, a qual diz respeito ao nosso aspecto interior) é complementado pela natureza do que existe ao nosso redor, a qual corresponde à visão do que difere do “eu” (sendo este o aspecto exterior a nós que é revelado pela dor). O interior é complementado pelo exterior. Dessa forma, o desenvolvimento da consciência só é completo na vivência de ambas as percepções. O interior, percebemos por nossos próprios impulsos. O exterior, percebemos pela negação destes impulsos.

No sistema nervoso, os neurônios acrescentam novas considerações à questão da percepção. O neurônio sempre reage a uma certa intensidade mínima de estímulos de forma que, abaixo desse limiar, novas sinapses não ocorrem. No entanto, quando um mesmo estímulo é intenso o bastante mas repetido com frequencia, ele passa a ser ignorado. O motivo disso é o que se chama de imagem consecutiva negativa que é mantida por um tempo, de forma residual, em cada neurônio e que, sendo a imagem negativa do estimulo, ela o cancela. Para se compreender o que é a imagem consecutiva negativa, basta observar alguma cena com cores iluminadas e brilhantes por alguns segundos, e fechar os olhos. Então se verá uma imagem em negativo, a qual é a imagem consecutiva negativa do que se viu.

Há muitas outras experiências físicas nesse sentido como, por exemplo, a percepção do frio ou do calor que tende a se amenizar com o passar do tempo, o eco dos sons que nos incomoda a princípio mas que o ignoramos depois de um certo período, um ruído insistente que passa despercebido quando nos habituamos a ele, e, é claro, isso também se aplica às sensações de prazer e dor e, até mesmo, às experiências subjetivas da rotina do dia-a-dia, as quais não são necessariamente físicas. Na verdade, é este mecanismo que permite que nos acostumemos às mais diversas situações ao nosso redor porém, ao mesmo tempo, nos torna cada vez mais incapazes de perceber o que nos cerca, a menos que os estímulos se tornem mais intensos, ou que sejam intercalados pela ausência de estímulos. Essa é a base da dinâmica do vício: a busca de um estímulo cada vez maior para produzir o mesmo efeito de prazer. É a escravidão de si mesmo à paixão, não no sentido romântico, mas no sentido de tornar-se dependente das próprias sensações.

O vício se origina com uma experiência prazerosa que gera a expectativa da repetição dessa experiência. Seguem então tentativas de reproduzi-la, porém cada nova tentativa tende a proporcionar menos prazer do que as anteriores, justamente pelo fato da pessoa acostumar-se a elas. Como compensação, procura-se experiências cada vez mais fortes para se manter a mesma intensidade de satisfação. Em certo estágio, realiza-se freneticamente diversas tentativas, as quais não produzem qualquer tipo de satisfação real. Quando se percebe a falta de sentido do vício, tenta-se negá-lo e conte-lo, mas aspectos subconscientes foram estimulados por muito tempo até então, adquirindo uma espécie de aprendizado inercial sobre como gerar o prazer através do vício. A abstinência gera insatisfação e a mente começa a sugerir os passos que aprendeu para obter o prazer. Por um tempo, existe uma resistência consciente a estes estímulos porém, gradualmente, começa-se a ceder a atitudes aparentemente sem consequências, porém sedutoras. Estas atitudes provocam ainda mais a imaginação, diminuindo o poder sobre os próprios pensamentos e, por consequência, reduzindo também o auto-controle. E assim, após um período de abstinência que pode ser até mesmo razoavelmente longo, há a recaída, e após a recaída, toda a auto-estima adquirida neste período se esvai, até que se tente novamente vencer o vício. Este processo se aplica a todo tipo de vício, seja o vício de comer exageradamente, usar drogas, fazer sexo, fazer compras, ou qualquer outro.

Na sociedade, o vício provoca deteriorações das mais diversas formas, seja na saúde, nos aspectos financeiros, ou nos relacionamentos pessoais, familiares, sociais e profissionais. Para contrabalançar estas consequências, existem regras para moderar as possibilidades individuais de obtenção do prazer. São as convenções religiosas, morais e legais que têm a função de fixar limites, criar contextos estáveis, e assim estabelecer ciclos que intercalam a satisfação por um lado e o cumprimento de uma função social por outro. O problema está no fato de que estas convenções não conseguem abranger as necessidades pessoais de uma forma plena e homogênea para todos os indivíduos, gerando uma crescente insatisfação na sociedade e provocando conflitos com relação às convenções pré-estabelecidas, nas esferas pessoal, familiar, social e profissional. De fato, é frequente que estes atritos e desequilíbrios sejam transportados para dentro das pessoas, tornando-as indivíduos de “duas faces”, sendo uma destas faces a demonstração de perfeição religiosa e moral, e a outra, de uma natureza oculta, intencionalmente escondida. E também existem as pessoas consideradas virtuosas, embora sejam difíceis de se diferenciar daquelas que são hipócritas, ou seja, das que aparentam ser algo que não são (a não ser pelas contradições inerentes da hipocrisia). Ainda assim, mesmo para o verdadeiramente virtuoso, ainda pesa a insatisfação.

A forma como o prazer e a dor se manifestam (e as condições que se repetem nesse processo) abrange muitos contextos, seja o próprio indivíduo (introspectivamente), ou no ambiente familiar, ou na sociedade de uma maneira mais ampla. Compreender estes aspectos em si mesmo é o primeiro passo para se adquirir o auto-controle e também o controle sobre as possibilidades de transformação da realidade ao redor de si. É necessário que se seja capaz de se ver tal como um observador externo, percebendo a dinâmica de pensamentos, sensações e emoções interna, bem como as interações externas, e então procurar conscientemente interferir nesta dinâmica. Com este tipo de intervenção, através de pensamentos, atitudes e ações, é possível assumir o controle de si próprio para então ser capaz de interagir e orientar melhor o mundo ao redor de si, na direção de uma realização cada vez mais plena. Os resultados são, com frequência, quase desanimadores à princípio e, em meio a um processo de tentativa-e-erro, não há garantia de que nunca surjam motivos para arrependimento mas, para cada ilusão e erro sempre há um aprendizado quando os percebemos e, assim, nos tornamos melhores pelo simples fato de tentarmos sê-lo.

O que se busca é permitir que a satisfação ocorra de forma equilibrada. O filósofo grego Epicuro (341 - 271/270 a.C) criou um método relativamente simples de ser aplicado na busca da realização plena do prazer com equilíbrio, cujo sentido original se deturpou já nos seus primórdios, por seus próprios seguidores: o hedonismo. O hedonismo, na concepção de Epicuro, partia do princípio de que o ser humano tem três dimensões: física, mental e espiritual. A dimensão física diz respeito à satisfação ou insatisfação física; a dimensão mental diz respeito às satisfações ou insatisfações apontadas pelo uso da razão, a qual envolve o intelecto e também a capacidade de imaginar possibilidades; a dimensão espiritual, no entanto, envolve os sentimentos e, em particular, aqueles que nos ligam às outras pessoas e à natureza ao nosso redor, nos tornando capazes de sentirmos satisfação ou insatisfação não apenas por nós mesmos, mas também nos permitindo desenvolver empatia por outras pessoas, nos motivando a agir também pelo bem-estar de outros. Nessa concepção, o hedonismo é ético e pressupõe que, se buscarmos maximizar o prazer nestas três dimensões, permanecendo sensíveis às mesmas, estaremos em equilíbrio. O hedonismo é uma bússola interna para procurar a verdade pois implica na atenção plena às fontes primárias do conhecimento de si próprio e do mundo: o prazer e a dor.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Sonhos

De todas as experiências de contato com o universo não-físico, há uma que se destaca por ser comum a todas as pessoas: o sonho. Mesmo considerando-se que há alguns que afirmam não sonhar, está comprovado: todos sonham. O que acontece é que muitas pessoas não conseguem se lembrar que sonharam. Estranho isso, não é? Não se lembrar que sonhou. Mas como descobriram isso, que todos sonham?

Quando nós dormimos, primeiro há um relaxamento e, geralmente, algum tempo depois, segue o movimento rápido dos olhos (o movimento REM, Rapid Eye Movement), com os olhos fechados, e é esse movimento que marca o início do sonho. Sabemos que todos sonham porque, em experimentos, pessoas foram despertadas nesse instante e reportaram que tinham começado a sonhar, mesmo quem acreditava nunca sonhar. Não sei porquê as pessoas quase não reparam nesse movimento. Eu mesmo me lembro de tê-lo visto apenas uma vez, quando eu olhava para uma pessoa dormindo.

O sonho não é uma necessidade do organismo físico porque o organismo pode relaxar sem o sonho. No entanto, ele é essencial para nosso equilíbrio. Os estímulos da rotina diária sempre nos estressam, mesmo que sutilmente, sem que percebamos. O sonho é a reação no sentido de obtermos experiências que nos centram novamente. Estas experiências envolvem perceber elementos do subconsciente, expressar-se a eles, e também ser observados sem que percebamos. A mente humana tem uma complexidade imensa, constituída por uma imensidade de "subconsciências" e "inconsciências", seres dentro de nós mesmos, seres a que nos unimos ou repelimos inconscientemente. De fato, uma rede invisível de contatos e recursos é criada quando sonhamos. Durante o sonho, criamos impressões, afastando-nos ou aproximando-nos de toda uma pluralidade de seres cuja existência muitas vezes as pessoas nem sequer suspeitam que seja real.

O que afirmamos nos sonhos tende a se unir a nós e o que negamos em sonhos tende a se isolar de nós. No entanto, não podemos controlar o desenrolar dos sonhos, embora possamos tentar estimulá-los um pouco antes de dormir, e isso até funciona no começo de um sonho, mas não no sono profundo que é onde as estruturações mais fortes acontecem. Nesse caso, como orientar os sonhos? Se o sonho é, em larga medida, a expressão de quem você é, a melhor forma de conduzi-lo é enriquecendo sua própria consciência através de um processo de reflexão durante o período de vigília, interferindo em quem você é e, por extensão, interferindo na sua expressão no sonho. Essa reflexão pode ser auxiliada por uma boa leitura, por assistir um filme, e por outros meios e estímulos, porém sempre se deve considerar estes meios como meros auxiliares, uma vez que o que conta realmente é sua experiência pessoal.

Qualquer pessoa, rica ou pobre, com ou sem livros para ler, pode refletir e obter entendimento e sabedoria neste processo. São os fatos do dia a dia na vida de cada um, os altos e baixos, as ilusões e desilusões, que devem ser considerados, são as emoções, os desejos, as conclusões em que aponta a razão, e também as dúvidas. Uma dúvida jamais deve ser respondida com a fé cega, e sim com uma resposta pertinente em seus próprios termos. Ou, então, com uma resposta que demonstre que a dúvida não é aplicável por não ter relevância em uma questão. Ser sincero consigo mesmo é essencial para criar uma rede de ressonância de maneira tal que não se arrependa mais tarde. É importante não se importar com o que se possa parecer, e sim assumir até mesmo as incoerências de quem se é. Assim o que for verdadeiramente ressonante ao praticante irá se associar a ele e, da mesma forma, o que for dissonante irá se dissociar. Sendo verdadeiro consigo mesmo, a rede criada irá se tornar também confiável e verdadeira com o passar do tempo, pois será esta a imagem de si próprio que estará sendo comunicada à rede. É um processo de unir-se como igual e não de dominar. É demorado, iniciando-se com um turbilhão de pensamentos e quase nada em que se apoiar mas, com o passar do tempo, um núcleo cada vez mais sólido vai surgindo e se expandindo. Este núcleo em expansão é sua própria consciência se desenvolvendo.

Na realidade, nossa individualidade, nossa separação em relação ao mundo, é uma ilusão de nosso ego. A realidade é contínua e tudo que existe se interliga. Como diz o princípio do hermetismo, "o que está acima é como o que está abaixo". Ou na tradução cristã: "assim na Terra como no Céu". Os primeiros efeitos visíveis certamente dirão respeito às transformações pessoais, na forma de pensar e na forma de sentir. Certamente haverão períodos de estímulo, contidos pela sensação de querer avançar e não saber como prosseguir mas, havendo perseverança e utilizando os recursos da inteligência e da imaginação, novas saídas serão descobertas, novos avanços e, de novo, obstáculos. Este é um ciclo que sempre irá existir. Mesmo que durante esta busca haja culpa e arrependimento por causa de erros provenientes de ilusões e de se ter tentado fazer algo (o que em uma visão mais ampla, não é um erro), sempre nos tornamos pessoas melhores no momento em que aprendemos com os erros, e sempre nos tornamos capazes de oferecer mais ao mundo e às nossas próprias vidas. As rosas sempre terão espinhos, mas será que vale a pena nunca provar do perfume delas apenas para não se ferir?

Para obter mais resultados nas experiências nos sonhos, uma excelente prática é manter um diário de sonhos. O melhor momento para realizar as anotações é assim que estiver desperto, para que não se venha a esquecer do que ocorreu no sonho. Dessa forma é possível perceber quais são os elementos e interações que surgem, tornando-se ainda mais consciente destas experiências e, por consequência, mais preparado para interagir de forma cada vez mais eficiente em novos sonhos, uma vez que se irá ser capaz de verificar avanços e também será possível definir perspectivas a serem buscadas. É comum que, quanto mais esta prática seja realizada, mais se seja capaz de recordar as experiências nos sonhos. O diário de sonhos também é muito útil para perceber a relação entre os sonhos em si e as experiências diárias nos momentos de vigília.

domingo, 15 de julho de 2012

Modelando as próprias crenças

No mundo moderno, uma das maiores dificuldades que as pessoas têm é de pensar além das aparências das coisas. Normalmente as pessoas têm suas religiões, mas quando precisam tomar decisões no mundo real, o pilar básico sempre parece ser o dinheiro, e depois do dinheiro, vem o trabalho como consequência da necessidade do dinheiro. Ainda assim, acreditam em algo transcendente, mas normalmente consideram que a justiça que vem deste transcendente é algo que só vai se completar, mesmo, no além-vida, ou então  daqui a milhares de anos adiante, ou quem sabe na Era de Aquário, no final do século, ou no final do milênio. Mas o fato é que aqui, agora, as pessoas não acreditam em uma justiça plena, e muito menos numa realização plena.

Ou seja, acredita-se no transcendente, mas não que esse transcendente acontece agora. Exceto, é claro, quando acontece alguma coisa e alguém diz: "Aqui se faz, aqui se paga!", ou então "Deus é grande!". Em outras palavras, quando a coisa não acontece, é porque não é para acontecer, e quando a coisa acontece é providência divina, ou justiça divina, que dá na mesma.

Dessa forma normalmente não se precisa de argumentos para se acreditar no que quer que se deseje acreditar, porque esta crença não precisa estar atada a fatos concretos. É verdade que, quando vêm dificuldades, também vem aquele impulso de revisar crenças, mas para isso existem outras crenças que tendem a anulá-lo do tipo "Fé é crer sem ter provas", ou "É necessário se sacrificar porque Jesus se sacrificou por você". Esse conjunto de crenças, e muitos outros, criam uma estagnação que faz com que as pessoas se mantenham em um mesmo estado, sem movimento, imobilizadas por ideias que não inventaram e que lhes foram instiladas. A maior dificuldade para se abandonar estas ideias vem do fato de que, em larga medida, exige-se o pioneirismo. É um tiro no escuro, por assim dizer. Esse passo inicial precisa de alguma coisa palpável, embora algumas pessoas simplesmente andem em qualquer trilha sem pensar muito em coisas palpáveis. De fato, a grande maioria segue uma dessas trilhas.

Sobre as coisas palpáveis, há aqueles que reconhecem que suas crenças os levam a estados de estagnação e percebem a fragilidade de suas próprias bases, principalmente quando crenças levam a atitudes, e então a atos, e então à modelagem da própria vida de cada um. Ao reconhecer isso, muitas pessoas preferem não formar opinião e outras preferem simplesmente não acreditar em coisa alguma, porém estas duas atitudes não contribuem para realizar as pessoas. É preciso apostar em alguma coisa.

Muitos apostam na lógica, e na ciência por extensão, a qual é extremamente amparada pela lógica. É uma opção e tem suas vantagens. Já pode ser, por exemplo, uma atitude pessoal de busca. Eu digo "pode ser" porque, de repente, os cientistas (digo isso sem generalizar) se tornam bispos e papas de uma nova religião quando começam a gerar afirmações que são aceitas sem questionamento, já que a ciência certamente obtêm tantas respostas atualmente e as pessoas podem se acomodar, concordando sem avaliar. Ainda assim, a aposta consciente na ciência, já é um ato de coragem.

A ciência, é claro, também tem suas limitações. O conhecimento científico serve à humanidade como um todo, não sendo direcionado às necessidades de uma pessoa específica. Pode-se dizer que a ciência modifica e modificará o mundo, mas não é possível precisar exatamente como ela age e vai agir na vida de cada indivíduo, especificamente. Você pode utilizar o conhecimento científico para ampliar suas possibilidades, porém não há como se assegurar de um resultado determinístico, de um resultado 100% preciso na direção que você deseja ir.

No entanto, o que eu pretendo realizar é tentar descobrir o que está mais além, não apenas no âmbito do conhecimento físico, mas do metafísico. É claro que existe a argumentação de que não há nada além. Mas talvez seja apenas uma questão de procurar coisas novas, de ver a realidade sob novos pontos de vista. Porém ainda precisamos das coisas palpáveis, para nos amparar, pelo menos uma indicação de que existe algo que não seja contemplado pela lógica e que nos sirva de impulso. Uma prova pessoal.

O que eu sugiro como prova pessoal, e coloco para reflexão, é uma coisa muito simples de se perceber: consciência. Eu sei que eu existo. Isso é indiscutível, eu sei. Não é uma ilusão. Assim como todos sabem que existem. Observe que esse conhecimento não é um fenômeno que simplesmente aparenta ser. Eu não sou um mecanismo cujos resultados simulam um ser consciente, tal como um computador pode simular. Não sou uma simulação: eu sou consciente de que eu existo, de fato. É claro que se pode argumentar que talvez um mecanismo muito mais complexo poderia criar a consciência de fato, porém eu contra-argumento dizendo que todo mecanismo complexo nada mais é do que um conjunto de mecanismos simples integrados e que estes mecanismos simples não têm a consciência em si. Ou seja, por mais complexo que seja um mecanismo, ele pode simular a consciência, produzindo resultados próximos ou iguais à consciência, mas um mecanismo jamais poderá olhar para si mesmo e constatar, para si próprio: "Eu existo".

O que eu quero dizer com isso? Que a ciência está errada? Não. De forma alguma. Apenas que ela é incompleta e que o mero fato de saber que se existe é um mistério não explicado, e aponta para a certeza que existe algo além. É neste além que eu quero adentrar.