domingo, 15 de julho de 2012

Modelando as próprias crenças

No mundo moderno, uma das maiores dificuldades que as pessoas têm é de pensar além das aparências das coisas. Normalmente as pessoas têm suas religiões, mas quando precisam tomar decisões no mundo real, o pilar básico sempre parece ser o dinheiro, e depois do dinheiro, vem o trabalho como consequência da necessidade do dinheiro. Ainda assim, acreditam em algo transcendente, mas normalmente consideram que a justiça que vem deste transcendente é algo que só vai se completar, mesmo, no além-vida, ou então  daqui a milhares de anos adiante, ou quem sabe na Era de Aquário, no final do século, ou no final do milênio. Mas o fato é que aqui, agora, as pessoas não acreditam em uma justiça plena, e muito menos numa realização plena.

Ou seja, acredita-se no transcendente, mas não que esse transcendente acontece agora. Exceto, é claro, quando acontece alguma coisa e alguém diz: "Aqui se faz, aqui se paga!", ou então "Deus é grande!". Em outras palavras, quando a coisa não acontece, é porque não é para acontecer, e quando a coisa acontece é providência divina, ou justiça divina, que dá na mesma.

Dessa forma normalmente não se precisa de argumentos para se acreditar no que quer que se deseje acreditar, porque esta crença não precisa estar atada a fatos concretos. É verdade que, quando vêm dificuldades, também vem aquele impulso de revisar crenças, mas para isso existem outras crenças que tendem a anulá-lo do tipo "Fé é crer sem ter provas", ou "É necessário se sacrificar porque Jesus se sacrificou por você". Esse conjunto de crenças, e muitos outros, criam uma estagnação que faz com que as pessoas se mantenham em um mesmo estado, sem movimento, imobilizadas por ideias que não inventaram e que lhes foram instiladas. A maior dificuldade para se abandonar estas ideias vem do fato de que, em larga medida, exige-se o pioneirismo. É um tiro no escuro, por assim dizer. Esse passo inicial precisa de alguma coisa palpável, embora algumas pessoas simplesmente andem em qualquer trilha sem pensar muito em coisas palpáveis. De fato, a grande maioria segue uma dessas trilhas.

Sobre as coisas palpáveis, há aqueles que reconhecem que suas crenças os levam a estados de estagnação e percebem a fragilidade de suas próprias bases, principalmente quando crenças levam a atitudes, e então a atos, e então à modelagem da própria vida de cada um. Ao reconhecer isso, muitas pessoas preferem não formar opinião e outras preferem simplesmente não acreditar em coisa alguma, porém estas duas atitudes não contribuem para realizar as pessoas. É preciso apostar em alguma coisa.

Muitos apostam na lógica, e na ciência por extensão, a qual é extremamente amparada pela lógica. É uma opção e tem suas vantagens. Já pode ser, por exemplo, uma atitude pessoal de busca. Eu digo "pode ser" porque, de repente, os cientistas (digo isso sem generalizar) se tornam bispos e papas de uma nova religião quando começam a gerar afirmações que são aceitas sem questionamento, já que a ciência certamente obtêm tantas respostas atualmente e as pessoas podem se acomodar, concordando sem avaliar. Ainda assim, a aposta consciente na ciência, já é um ato de coragem.

A ciência, é claro, também tem suas limitações. O conhecimento científico serve à humanidade como um todo, não sendo direcionado às necessidades de uma pessoa específica. Pode-se dizer que a ciência modifica e modificará o mundo, mas não é possível precisar exatamente como ela age e vai agir na vida de cada indivíduo, especificamente. Você pode utilizar o conhecimento científico para ampliar suas possibilidades, porém não há como se assegurar de um resultado determinístico, de um resultado 100% preciso na direção que você deseja ir.

No entanto, o que eu pretendo realizar é tentar descobrir o que está mais além, não apenas no âmbito do conhecimento físico, mas do metafísico. É claro que existe a argumentação de que não há nada além. Mas talvez seja apenas uma questão de procurar coisas novas, de ver a realidade sob novos pontos de vista. Porém ainda precisamos das coisas palpáveis, para nos amparar, pelo menos uma indicação de que existe algo que não seja contemplado pela lógica e que nos sirva de impulso. Uma prova pessoal.

O que eu sugiro como prova pessoal, e coloco para reflexão, é uma coisa muito simples de se perceber: consciência. Eu sei que eu existo. Isso é indiscutível, eu sei. Não é uma ilusão. Assim como todos sabem que existem. Observe que esse conhecimento não é um fenômeno que simplesmente aparenta ser. Eu não sou um mecanismo cujos resultados simulam um ser consciente, tal como um computador pode simular. Não sou uma simulação: eu sou consciente de que eu existo, de fato. É claro que se pode argumentar que talvez um mecanismo muito mais complexo poderia criar a consciência de fato, porém eu contra-argumento dizendo que todo mecanismo complexo nada mais é do que um conjunto de mecanismos simples integrados e que estes mecanismos simples não têm a consciência em si. Ou seja, por mais complexo que seja um mecanismo, ele pode simular a consciência, produzindo resultados próximos ou iguais à consciência, mas um mecanismo jamais poderá olhar para si mesmo e constatar, para si próprio: "Eu existo".

O que eu quero dizer com isso? Que a ciência está errada? Não. De forma alguma. Apenas que ela é incompleta e que o mero fato de saber que se existe é um mistério não explicado, e aponta para a certeza que existe algo além. É neste além que eu quero adentrar.

2 comentários:

  1. Oi MQNS,

    Gostei muito do seu blog, particularmente do seu post acima. Vc me autorizaria a postá-lo lá no Anoitan com as devidas referências?

    Obrigada,
    adi

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  2. Olá Adi!

    É claro que autorizo a publicação do meu post. Aliás, o blog Anoitan é um dos meus prediletos. Eu me sinto realmente lisonjeado em poder colaborar.
    Desculpe por demorar tanto para responder. Eu havia dado uma pausa no meu blog mas agora retornei (não consigo deixar de escrever...). Então, quando vi as mensagens pendentes, encontrei a sua.

    Um abraço,

    Paulo

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