Nos posts Uma Conversa com o “Diabo” e O Diabo e os Folhetos de Missa, narrei as duas primeiras partes de um sonho. Neste sonho, o Diabo (tal como havia se identificado a mim) levou-me primeiro ao Éden e, logo em seguida, à uma igreja. O post atual descreve a parte final do sonho.
Havíamos nos desmaterializado na igreja e estávamos então em um deserto. Apesar do Sol ali estar forte, a temperatura ambiente não me parecia quente. Caminhamos até uma rocha onde havia uma caixa sobre a mesma. O Diabo tomou-a em suas mãos, abriu-a e mostrou-me seu conteúdo. Havia ali uma pedra que brilhava quase que hipnóticamente. O interior da caixa estava escuro, protegido pela sombra, mas mesmo assim a pedra brilhava como se tivesse luz própria. Eu a observava quando ele iniciou o diálogo:
- Esta pedra representa tudo o que você possa desejar. Não existe limite para o que ela possa realizar.
Eu continuava observando-a. No entanto, eu não apenas a observava. Eu também a desejava. Ele prosseguiu:
- Você a considera interessante?
- Sim, muito interessante - respondi.
- Então sirva a mim e poderá ter tudo o que ela significa.
Assustei-me. Apesar de seduzido pelas possibilidades daquela pedra, eu não tinha intenção de submeter-me ao Diabo, mesmo que fosse para obtê-la. Dei-lhe minha resposta:
- Desculpe. Não posso. Permite que eu lhe explique o motivo?
Procurei ódio no seu olhar mas não encontrei. Na realidade ele estava prestando atenção às minhas palavras, como que interessado no que eu estava para dizer. Continuei:
- Não posso servir alguém acima de mim mesmo. Eu penso que este é o verdadeiro significado da idolatria. Não posso lhe jurar lealdade. Quero propor-lhe outra coisa.
Ele continuou prestando atenção ao que eu dizia. Dei continuidade à minha proposta:
- Eu posso me unir a você à medida que nossos ideais forem os mesmos. Se estes assim o forem, não há problema em prosseguirmos juntos. Porém, se nossos ideais forem diferentes, ou tornarem-se diferentes, cada um de nós é livre para seguir seu caminho. Que acha disso?
Ele não me deu resposta. Apenas observava e aparentemente refletia sobre o que eu lhe tinha dito. O sonho se encerrou nesse momento.
***
Nos dias que seguiram logo depois de meu sonho, um grande fluxo de intuições veio à minha mente a respeito de Lúcifer. Conforme os anos se passaram, este fluxo diminuiu mas, de tempos em tempos, sempre existiram alguns lampejos. A impressão que eu tenho é que Lúcifer acabou levando em conta a minha reposta.
Confesso que por muitos anos esse sonho me deixou um tanto confuso. Afinal trata-se de um ser que tornou-se proscrito por não aceitar uma existência de possibilidades previstas e confinadas à imutabilidade (conforme o post Uma Conversa com o “Diabo”) e, ao mesmo tempo, trata-se de alguém que usa toda uma gama de conhecimento e consciência contra uma visão estéril, auto-rotulada como cristianismo que busca se impor sobre tudo o mais como o único meio de se chegar à verdade (conforme o post O Diabo e os Folhetos de Missa). Será que ele se tornaria exatamente aquilo que persegue? Será que alguém consegue abrir a mente de outras pessoas sem abrir sua própria mente?
Só recentemente cheguei a um posicionamento a este respeito que aparenta explicar estas discrepâncias. A sugestão de Lúcifer (“Sirva-me”) foi um teste. De um lado, a possibilidade de possuir tudo o que se quer. De outro, a possibilidade de perder-se a si próprio. O teste seria: “Dependendo do preço, você abre mão de seus ideais?”. A resposta que dei-lhe foi exatamente com base nos meus ideais.
Há alguns meses conversei com uma amiga que disse que havia tido uma experiência de contato com Lúcifer há alguns anos atrás. Só que no caso dela não foi apenas um sonho, e sim um contato de aproximadamente um mês que eu presumo que tenha acontecido pelo astral. O interessante é que a narrativa dela concluiu também da mesma forma, com a mesma proposta de Lúcifer. Ela se negou, tal como eu o fiz, mas eu fico curioso para saber os detalhes de sua resposta.
Eu suspeito que Lúcifer sempre fez esta questão, às mais diversas pessoas, conforme passaram-se os milênios. A bíblia relata o momento em que Jesus respondeu a essa mesma pergunta, embora eu não saiba quão fiel ao fato original esta descrição bíblica realmente é. Confira o seguinte trecho:
Então Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto, para ser tentado pelo diabo. Por quarenta dias e quarenta noites esteve jejuando. Depois teve fome. Então, aproximando-se o tentador, disse-lhe: "Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães".
Mas Jesus respondeu:
"Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. " Então o diabo o levou à Cidade Santa e o colocou sobre o pináculo do Templo e disse-lhe: "Se és Filho de Deus, atira-te para baixo, porque está escrito: Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, e eles te tomarão pelas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra. "
Respondeu-lhe Jesus:
"Também está escrito: Não tentarás ao Senhor teu Deus. "
Tornou o diabo a levá-lo, agora para um monte muito alto. E mostrou-lhe todos os reinos do mundo com o seu esplendor e disse-lhe:
"Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares". Aí Jesus lhe disse:
"Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto. " Com isso, o diabo o deixou. E os anjos de Deus se aproximaram e puseram-se a servi-lo.
Mateus 4, 1-11 (Bíblia de Jerusalém)
É de senso comum no ocultismo que Jesus também foi um mago, o que eu acredito que seja verdade, mas não penso nele como o filho de Deus. Eu acredito que ele tenha sido apenas um mago como tantos outros. As experiências que ele viveu, por mais que possam ter parecido assombrosas para aqueles que com ele conviveram, não são experiências únicas. Também é óbvio que há invenções e exageros. Digamos que o mago que Jesus foi verdadeiramente é tão próximo ao mito criado sobre o mesmo quanto as bruxas verdadeiras são capazes de voar em vassouras…
Enfim, o que significa passar nessa prova de Lúcifer? Será que dá o direito a alguém de usar uma pedrinha mágica que realiza qualquer desejo? Duvido… Afinal de contas tudo na minha vida tem sido ação e reação, tal como na vida de qualquer pessoa. Você colhe aquilo que planta. Se souber plantar bem, colhe bem. Esta pergunta permanece sem resposta.