domingo, 27 de julho de 2014

Quando a Experiência Física Não é Tão Física

Quem nunca ouviu falar a respeito de uma história real em que alguma coisa acontece que não se pode explicar pelas leis da física? Tal como um objeto que flutua sozinho, ou um ruído que vem detrás da porta do armário que, quando aberto, está com todo seu interior bagunçado, embora ninguém estivesse próximo ao mesmo. O mais intrigante é que, com frequência, após se deixar a cena original e se retornar depois, tudo volta ao normal, como se nada tivesse acontecido.

Este retorno à normalidade costuma ser desconcertante. Afinal, a visão percebida anteriormente é geralmente tão nítida e quando se toca os objetos, eles são tão concretos. Tão físicos. Sente-se a pressão nos dedos. Sente-se o peso, a textura e a umidade. Junto com esta experiência vem a sensação de certeza de se estar vivendo o paranormal. No entanto, porque tudo retorna à situação que estava antes?

Certa vez, ao acordar de manhã cedo, vi diante de mim a silhueta de um corpo absolutamente negro, tal como uma sombra, só que sem transparência nenhuma. Embora já houvesse claridade, eu não conseguia distinguir traço algum. Até mesmo os olhos eram totalmente negros. Eu sentia sua pressão contra meu próprio corpo. Estava me beijando.

Minha primeira reação foi de espanto. Depois senti medo. No entanto, decidi não reagir. Curioso, quis ver o que aconteceria, afinal não é sempre que se tem uma experiência desse tipo. Meu olhar se movia teimosamente, procurando detalhes de quem (ou do que) estava à minha frente. Minha mão estava levantada, firme, porém sem propósito.

De repente a aparição sumiu. Minha mão estava relaxada. No entanto, eu não a havia repousado. Não houve transição. Em certo momento ela estava levantada e tensa. Instantaneamente depois, estava repousada. Meu corpo, que antes também estava tenso, de repente e sem transição, estava relaxado. Como se tivesse acordado naquele mesmo momento. Ainda assim, eu sabia que já estava desperto há mais tempo. A luminosidade e o ambiente não haviam mudado. Apenas aquela estranha visitante havia desaparecido, bem como não havia vestígio algum de minhas próprias reações físicas.

Foi por causa deste evento que percebi quão ilusória pode ser uma experiência cuja vivência aparenta ser tão física, porém não o é. Refletindo sobre aqueles instantes, percebi que estava vivendo um estado de transição em que existiam sensações reais (a luminosidade do ambiente, a posição de alguns objetos, etc) mas, ao mesmo tempo, algo não físico estava projetado ali (apesar de parecer, a mim, tão sólido). Assim, acabei aprendendo sobre a natureza deste tipo de fenômeno: um estado intermediário de consciência com uma mescla de estímulos físicos e não-físicos, embora com uma percepção de sensações concretas muito acentuada.

No entanto, o que se projetou diante de mim temporariamente? Uma imagem de meu subconsciente? Ou seria do inconsciente (algo externo a mim)? Não sei dizer. São questões para as quais é difícil se obter respostas.

Um amigo meu vive este tipo de situação pelo menos uma vez por mês. Há um nome científico para esta forma de despertar porém, me desculpem, eu não me recordo. O fato é que para ele sempre é desagradável quando ocorre. Ele se assusta e às vezes pula sobressaltado da cama, apenas para perceber, instantes depois, que tratava-se de uma ilusão. Realmente meu amigo não dorme bem, por este e por outros motivos.

Só que isso me faz pensar em outras situações em que ocorrem acontecimentos incríveis na vida das pessoas, cujos traços desaparecem misteriosamente quando se vai tentar comprová-los. Então criam-se hipóteses rebuscadas, por sua vez também difíceis de obter comprovação. As pessoas tendem a acreditar no que aparenta ser fantástico. Deixam-se seduzir.

É difícil opor-se a essa sedução. Quem não prefere acreditar ter vivido algo realmente especial e construir crenças em torno disso, unindo-se a outras pessoas que se deixam seduzir da mesma forma? Como dizer aos outros que os fundamentos de suas atitudes podem estar equivocados? Quem facilmente aceita a possibilidade de ter investido todo o tempo de uma vida (ou de um longo período da vida) em algo que não é verdade? É uma questão de sobrevivência. A negação é, em larga medida, normal. De repente, algo significa tudo e então se torna nada.

Não que o fantástico não exista. Não é isso. Se eu não acreditasse em algo além da percepção mundana, eu não estaria aqui, escrevendo sobre minha história na magia. Sim, o extraordinário existe e pode-se vivê-lo de forma concreta. No entanto, nossas ilusões nos impedem de percebê-lo. É preciso que saibamos reconhecer nossa própria tendência a nos deixar impressionar e assim consigamos avaliar de forma realmente objetiva cada fato e cada informação.

Por exemplo, um dos critérios para esta avaliação é que haja evidências que não tenham desaparecido (para as quais não tenham sido criadas explicações não verificáveis). Se as evidências forem questionáveis, deve-se questioná-las e buscar as respostas, não importa o tempo que seja necessário para isso. É preciso ser sincero consigo mesmo nessa busca.

Coloquei, como ponto de partida, um tipo de experiência que pode ocorrer ao se despertar. Contudo, há outras explicações e considerações também relacionadas a ilusões que podem parecer muito reais. Em breve, em alguns posts que se seguirão, eu pretendo abordar um pouco mais esta questão.