sábado, 15 de agosto de 2015

Quero que Você Seja Real

Certa vez vi uma mulher jovem, encostada à uma parede, vestindo uma jaqueta e sorrindo para mim. Simpatizei e, subitamente, tive consciência de que estava sonhando. Sim, era um sonho e visualizava uma pessoa dentro de um sonho.

Eu já sabia do poder imenso que se tem quando se expressa um desejo dentro de um sonho. Afinal, antes disso, eu já tivera outros que se tornaram reais, detalhe por detalhe, só porque, ainda imerso neles, eu havia afirmado que gostaria que fossem reais (ou, até mesmo, simplesmente que seria bom que fossem reais). E aconteceram, de fato, anos depois.

Pois então, eu estava sonhando, consciente. Sendo eu então um mago impulsivo (e ainda sou), passou uma ideia um tanto mirabolante por minha cabeça. A questão era: "Será possível? Será que eu posso alterar a malha da realidade nesse momento, orientando-a?". Nada tinha a perder. Fiz o teste. Olhei para os olhos da garota à minha frente e disse: "Eu quero que você seja real.".

Estava dito. Bastaria isso para torná-la real, ao longo do tempo? Ela sorriu de uma forma zombeteira e desapareceu diante de meus olhos. O que significou aquele sorriso? Parecia estar dizendo a mim: "Tolinho, eu já sou real.".

Este poderia ser um sonho como qualquer outro, mas acabou ficando entre aqueles dos quais jamais esqueci. O fato é que, anos depois, nasceu minha filha e cresceu com o passar do tempo, desenvolvendo-se. Cabelos negros, a cor de pele, o olhar, o sorriso matreiro e bem-humorado ao qual já me acostumei a ver tantas vezes. O jeito tímido, mas não excessivamente. Enquanto os anos se passaram, e particularmente nos últimos, comecei a me lembrar sem querer do sonho, mais e mais vezes, até que comecei a intuir porquê. Mas será? Será que a intuição está certa?

A maior parte destes sonhos em que eu planto uma semente, eu só recordo depois que acontecem, e nos detalhes. Porém alguns deles ficam em minha consciência desde o princípio. Servem como farol em diversas circunstâncias da minha vida. Parecem dizer-me: "Não se preocupe. O que quer que aconteça, irá levá-lo àquela direção. Basta continuar seguindo em frente".

Supondo que quem eu vi no sonho seja, de fato, minha filha, de onde nos conhecemos antes? É certo que minha alma sabe muito mais do que o que está aqui nos meus neurônios. Embora eu possa sentir algo (muitas vezes a falta de algo), não posso dizer o quê exatamente, pois não me recordo, mesmo que sinta. Procuro apenas estar receptivo ao que se passa na alma, deixando-a influenciar-me.

Quando nos tornamos receptivos ao que a alma nos faz ouvir, tomamos frequentemente as atitudes certas, porém sem conhecer os motivos certos. É como se agíssemos impulsivamente, de uma forma um tanto inconsequente, e é bem assim que me sentia no sonho. No entanto, não se trata de uma real inconsequência (não quando há um apelo da alma). É apenas um tipo de decisão que não encontra apoio na razão, nas memórias que existem ali no cérebro. O motivo de tudo vem de lembranças mais antigas do que o corpo, que não pertencem a ele. Acabamos então, realizando aquilo que viemos realizar nesse mundo e só depois de muito tempo (e com ajuda da intuição), entendemos que cumprimos nosso papel.