terça-feira, 20 de outubro de 2015

Aprendendo a Fazer Escolhas

Nunca fiquei muito tempo sem emprego. Já fui demitido, já pedi minha demissão, várias vezes. Porém, bastava colocar meu currículo em dia, usar ao máximo minha rede de contatos, voltar a me cadastrar nos sites especializados e, enfim, ir atrás do que aparecesse, para que logo uma nova oportunidade surgisse. Algumas vezes, porém, certas experiências em recrutamentos aconteceram primeiro em sonho (por mais estranho que isso pareça - o motivo, ainda vou discutir aqui no blog) para se tornarem fatos concretos somente meses depois.

Na realidade, eu já conversei e teorizei sobre este tema. Tratam-se de sonhos que se tornam reais, em detalhes, após entrarem em um período razoavelmente longo de esquecimento. Quando acontecem, a lembrança deles vem de súbito à mente. São experiências deste tipo (dentre outras) que me fazem recordar que a realidade não é apenas acaso. A psique se manifesta como causa na experiência individual.

Retornando à história, algo que eu realmente queria, na época, era encontrar uma oportunidade profissional em que eu me sentisse realmente valorizado. Ou seja, onde houvesse uma boa remuneração de fato, ao invés de simplesmente "Muito bom! Excelente trabalho! " (e nada mais palpável). Algumas pessoas que eu conhecia já estavam em carreiras que eu considerava interessantes naquele tempo. Eu dizia a mim mesmo que queria seguir seus exemplos, mas hoje devo reconhecer que, no fundo, tratava-se de simples inveja.

Meu trabalho era conhecido por seu rigor nos detalhes. Em uma época em que poucos se preocupavam com conceitos de qualidade, eu levava à cabo detalhadas verificações do software que eu produzia. Tudo isso era bom, não fosse pelo fato de que eu gostava dos elogios e, no fundo, me considerava melhor que os demais.

Ocorreu que, em um sonho, eu estava diante de uma proposta. Alguém perguntava a mim se eu a aceitaria. Não me recordo de mais nada a respeito do que havia acontecido antes, mas eu sabia intuitivamente que aquela era a proposta que eu tanto ansiava por obter.

De repente percebi que se tratava de um sonho e, por instinto, desejei que tivesse sido real. Ato mágico. Uma semente plantada em solo fértil dentro do inconsciente. Veio o esquecimento. Passou-se o tempo. Até que aconteceu de eu estar em São Paulo, em um processo seletivo.

Enfim tratava-se da alta remuneração que eu ambicionava (ou, pelo menos, é o que eu acreditava), além do status de trabalhar em uma grande capital. O movimento ao caminhar pelas ruas era algo do qual, um dia, eu fizera parte. Eu sentia saudade.

Saudade de um tempo que antecedia aquele momento. Saudade das grandes feiras tecnológicas que sempre fizeram parte do cotidiano daquela cidade. Saudade de um tempo ido, misturando-se a outras expectativas.

No entanto havia o preço. Eu assumiria contratos, mas não os decidiria. Um horário para chegar, nenhum para sair. Algumas pessoas me asseguravam: "Este é o modelo de trabalho no Brasil agora. É um tanto assustador a princípio, mas você se acostuma. Vale a pena.".

Fosse há cinco anos, eu não me importaria em dispor de todo meu tempo. Eu colocaria sim, todas as minhas fichas no dinheiro. Entretanto, naquele momento eu percebi que desejava envolver-me mais com outros aspectos da vida (o ocultismo, entre eles). Desejava ter meu próprio espaço e meu próprio tempo. Queria um lar, uma vida mais simples e uma rotina aconchegante.

Tinha boas lembranças, sim, de uma São Paulo do passado, porém percebia, naquele instante, que aquele tempo se fora. Diante de mim, estava o mesmo rapaz que aparecera no sonho, querendo saber se eu aceitava, ou não, aquela oferta. "Não ", respondi. 'Pensei melhor. Não é o tipo de trabalho que eu estou procurando".

Mal respondi e a lembrança da experiência astral veio à minha mente, de súbito, causando-me assombro. Algo em mim mudou desde então. Nunca mais invejei aqueles que seguiram este caminho.

A reação à minha resposta não foi negativa. Na realidade, não foi a última vez que tive esse tipo de proposta. Anos depois a mesma empresa entrou em contato de novo, e rejeitei a oferta outra vez, polidamente. Enfim chegou um tempo que trabalhamos juntos por um tempo, em outras condições. Outra empresa fez uma proposta semelhante a mim, para ajudar em um projeto nos mesmos termos, e aceitei temporariamente. Poderia ter continuado em outros projetos mas, pelos motivos que já expus, não quis.

Tudo isso valeu para que se reafirmassem em mim minhas convicções. Quando se trata de magia, é preciso separar o que é causa do que é efeito. A magia, em um sentido mais amplo, é a busca de realização plena, que começa de dentro para fora. Óbvio que toda escolha é pessoal, variando de indivíduo para indivíduo, porém sempre é o externo que deve ser dependente do interno, e não o contrário.

Quando se está preparado, o que é interno se materializa externamente. Não é uma questão de chance única, como pensam alguns. Mesmo que você cometa uma falha, mesmo que você deixe passar uma oportunidade, o que vibra no mago internamente simplesmente teima em se manifestar externamente, esteja ele consciente ou não.

Se você se deixa seduzir por alguns resultados (deixando o processo que criou estes resultados para segundo plano), você acaba se desconectando, até mesmo, do que já obteve (quase supérfluo dizer que muitos falham justamente por este tipo de fraqueza). Antes de se pretender controlar o que há ao redor de si, é necessário aprender a ser coerente principalmente consigo mesmo.

No final das contas, é o Si-Mesmo que é o fundamento da realização do mago.

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